No terceiro trabalho da carreira, cantora e violeira celebra a participação feminina no universo sertanejo, em 10 faixas autorais de grande inspiração em que enaltece o amor, a família e a vida no campo. Voz marcante e arranjos, do tradicional ao ousado, destacam-se na produção
Das margens do Rio Urucuia, no interior mineiro, para Brasília, Dayane Reis trouxe na bagagem a paixão pela viola caipira, aprendida nas festas de Folia de Reis, e passou a trilhar um caminho dedicado à arte. A cantora e violeira lançou, em todas as plataformas digitais, o terceiro álbum da carreira, ‘Ela só toca modão’, no qual celebra a participação feminina no universo sertanejo, em 10 faixas autorais de grande inspiração em que enaltece o amor, a família e a vida no campo. “É a realização de um sonho, que revela minha identidade e o que sempre quis mostrar ao público. Em relação aos anteriores, é um álbum bem mais completo, cada música fala um pouquinho de mim”, explica Dayane Reis.
Composta como uma resposta a uma provocação às escolhas artísticas da cantora, a faixa ‘Moda boa’ faz uma defesa das tradições caipiras, critica a relação da sociedade com o dinheiro e foi selecionada como música de trabalho da produção. “Moda raiz, se ‘ocê não gosta, deixa a gente ser feliz”, diz trecho da canção. “É um desabafo, pois desde que disse que tocaria viola caipira, sempre ouvi que ‘música antiga não traz sucesso’, ‘viola é coisa do passado’, ‘música raiz está fora de moda’. Então, fui juntando essas provocações e, na ocasião de um comentário em específico, de um colega de trabalho, que disse que eu teria de atualizar meu repertório ou estaria fora do mercado, nasceu ‘Moda boa’. Tem agradado bastante. Nos últimos meses, participei de um festival de música caipira em Anápolis (GO) e fiquei em segundo lugar com essa composição”, diz a orgulhosa violeira. “Sendo uma mulher, negra, violeira e trazendo a música raiz como meu repertório principal, tenho de enfrentar algumas dificuldades e dissabores, mas as alegrias estão sempre sobressaindo”, completa.
A faixa ‘Pagodão feminino’ evidencia o ativismo da cantora sobre questões de gênero e denuncia o preconceito enfrentado por uma mulher violeira. “O espaço feminino está crescendo cada vez mais e, no meio sertanejo, nós não vai ficar pra trás. O som da minha viola tem um charme feminino, se não me aceitou ainda, eu vou conquistar você”, cita trecho da canção. “Desde quando me apaixonei pela viola e resolvi que era esse o instrumento que eu iria tocar, ouvi de muitas pessoas que eu não podia, porque era um instrumento tocado por homens. Muitas pessoas, até próximas, desanimavam-me dizendo que isso estava errado e não entrava na minha cabeça que, por eu ser mulher, não poderia tocar o instrumento. Digo sempre que a gente não escolhe a viola, pois é ela quem nos escolhe e eu me sinto orgulhosa e agradecida por ter sido escolhida pela viola caipira”, comenta Dayane Reis.
Três faixas do novo álbum tratam de relações familiares: ‘Casa do vô’, ‘O mais perfeito cantar’ (em homenagem à filha, Esther) e ‘Meu berço adorado’ (sobre o convívio com os pais na fazenda em Urucuia-MG). “Sempre quis fazer uma música para minha filha, desde quando eu estava grávida, mas sou muito exigente. Mais de sete anos depois do nascimento de Esther, consegui expressar o amor que sinto por ela e a música ficou como eu queria: emocionante e forte. Maestro Grillo, do Estúdio Grillo Rocha, produziu do jeito que eu queria, pois ele sabia que é uma música muito especial para mim, minha filha e meu esposo, que também é um dos maiores incentivadores da minha carreira. Ficou apaixonante como é o amor de uma filha e de uma mãe”, explica a cantora.
A canção ‘Aquela que fala de amor’ também tem um lugar especial neste novo trabalho. “Aquela que fala de amor, que passa um cadim da minha dor. Pensei que eu não iria arrepender. Toca violeira aquela que me faz sofrer. Aquela que fala de amor, que passa um cadim da minha dor. Bebi, chorei. O que é que vou fazer, se eu canto e bebo choro por você?”, diz trecho da faixa. “O amor é sempre inspirador. A história foi contada por uma amiga, resolvi transformá-la em música e tem agradado bastante, pois traz um toque de viola, com uma mistura de uma pegada mais atual, porém com um tema sempre em alta: o amor e a paixão”, comenta Dayane Reis.
Crítica e inovação
Na faixa ‘O mundo ‘tá bagunçado’, a cantora e violeira apresenta uma dura crítica ao contexto sociopolítico presente. “Inverteram os valores, o que vale é ser esperto. É cobra engolindo cobra para mostrar poder. Ô mundo velho, sem direção, a vaca já foi brejo, sem rumo, sem freio de mão”, expõe alguns versos da composição. “Fiz essa música há quase 10 anos e ela continua atual. O refrão faz referência também a uma composição do mestre Tião Carreiro. Acredito que algumas coisas estão em processo de mudança, mas de uma forma muito lenta. Como diria uma frase da santa Madre Teresa de Calcutá, ‘Se você quer mudar o mundo, vá para casa e ame sua família’. Nessa frase se resume tudo o que podemos fazer para existir realmente uma mudança no mundo, pois, se eu amo minha família, sou honesta e vou ensinar isso a meus filhos. Se amo minha família, cumpro com minhas obrigações, cuido do meio ambiente e respeito o próximo. Então, acredito que tudo se resume nessa única frase”, filosofa a artista sertaneja.
A composição ‘Só com você’ tem uma proposta ousada, com mistura de ritmos e estilos, destacando guitarra e bateria eletrônica. “Quando sinto seu abraço em meu abraço, vai embora o meu cansaço. Meu amor, só com você eu quero estar. Da história que eu tive, é a mais bela”, cita parte do texto da canção. “É uma música romântica, uma segunda versão. Confesso que fiquei meio receosa em gravá-la por não ter uma pegada tão raiz como as outras, mas acredito que irá agradar. Maestro Grillo falou logo que seria diferente, numa pegada mais moderna e que eu não iria me arrepender. Confiei nele e o resultado está aí, uma música linda e muito bem trabalhada, com uma mistura de ritmos, sem deixar a viola de lado”, comenta a cantora.
Para gravar o álbum, Dayane Reis contou com um time de músicos experientes, capitaneados pelo produtor musical Grillo Rocha, responsável pelos arranjos, além de tocar acordeon e teclados. Dayane fez todas as vozes e violas, inclusive os solos. Os violões ficaram por conta de Rodrigo Rocha. Fábio Pessoa e Joás Sousa fizeram o contrabaixo. Iago Santos comandou a bateria, enquanto Morango, a percussão. Após o lançamento do novo trabalho, o plano é divulgar a produção ao vivo para o público. “Pretendemos fazer o lançamento em formato de show, que terá todas essas músicas e mais algumas, mas ainda estamos definindo data e local, porque gostaria de receber a todos de uma forma muito prazerosa e confortável. Não irá demorar muito. Em breve, faremos o show”, projeta Dayane Reis.
O álbum ‘Ela só toca modão’ foi patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC/DF), lançado nas principais plataformas de streaming pelo selo Viólêta Produções — representado pela violeira e produtora Karen Parreira — em parceria com o estúdio Grillo Rocha Produções — coordenado pelo instrumentista e produtor musical Grillo Rocha — responsável por gravar e produzir trabalhos de artistas importantes do cenário sertanejo do DF, como Zé Mulato e Cassiano; Vanderley e Valtecy; Chico Rey e Paraná; Pedro Paulo e Mateus; Roniel e Rafael, dentre outros.