Foto: Rinaldo Morelli/CLDF
Para o ex-comandante de operações da PM, que está preso, o acampamento era o “epicentro de todos os atos” golpistas
De acordo com o ex-comandante de Operações da Polícia Militar do DF, Jorge Eduardo Naime, o Exército protegeu os vândalos após a invasão da sede dos três poderes, no dia 8 de janeiro. Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos, nesta quinta-feira (16), ele relatou que, no momento da prisão dos que voltavam da Esplanada, a PM se deparou com uma “linha de choque montada com blindados e, por interessante que parecesse, eles não estavam voltados para o acampamento. Eles estavam voltados para a PM, protegendo o acampamento”.
Para ele, que está preso, o acampamento era o “epicentro de todos os atos” golpistas. “O tenente que era o oficial de dia no QG queria impedir que a gente prendesse as pessoas no gramado que fica ao lado da via N1. O argumento foi que o local era uma área do Exército e que a PM não poderia atuar. Presenciei o [interventor Ricardo] Cappelli tentando entrar e o general Dutra não permitindo”, relatou, sobre a tentativa de prisão no acampamento em frente ao QG.
Eu seu depoimento, ele também disse que participou de várias reuniões antes dos atos golpistas com o Comando do Exército para a retirada do acampamento, mas que as operações eram canceladas de última hora. Naime disse que chegou a colocar 500 homens à disposição, no dia 29 de dezembro, para retirar o acampamento. “Houve orientação expressa em dezembro para que não fosse permitida a retirada de pessoas no acampamento no Quartel General do Exército”, frisou.
Ainda de acordo com ele, havia agentes de inteligência, incluindo do próprio Exército, no acampamento, e que foram identificadas várias irregularidades, como comércio ilegal, que envolvia aluguel de tendas para ambulantes, bem como indícios de tráfico de drogas, prostituição e até denúncia de estupro. Também existia, ainda de acordo com o coronel, uma “máfia do pix”: “Várias lideranças ficavam no acampamento o tempo todo pedindo que as pessoas fizessem pix com a intenção de manter o acampamento”.
Mundo paralelo
Para o ex-comandante, “aquele pessoal” do acampamento vivia “num mundo paralelo”, numa “espécie de seita”. Ele relatou que um dos integrantes se apresentou a ele como um dos extraterrestres que ajudariam o Exército no esperado golpe de estado. Ainda de acordo com Naime, eles viviam “numa bolha”, com acesso restrito à informação.
Mario Espinheira/ Francisco Espínola – Agência CLDF