Trabalhadores das usinas de açúcar do País querem aumento real

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Trabalhadores das usinas de açúcar do País querem aumento real
 
Sem avanço nas negociações coletivas, categoria com 284 mil trabalhadores decide resistir à pressão das empresas e dão prazo de até 13 de junho para atendimento das reivindicações
 
 
 
A Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA Afins) realizou na última semana (24/05), o Encontro Nacional dos Trabalhadores do Setor de Usinas de Açúcar, em São Paulo (SP). Na ocasião, a categoria, que conta com 284 mil trabalhadores no País, discutiu as principais dificuldades nas negociações coletivas e aprovou resolução que propõe a imediata correção inflacionária nas datas bases dos trabalhadores. Com apoio da União Internacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (UITA), os participantes também aprovaram uma nota de repúdio contra o procedimento rígido das empresas com sindicatos e federações. Categoria profissional não descarta a possibilidade de manifestações e paralisações no setor.
 
Durante o encontro, que reuniu representantes de 22 entidades sindicais, os trabalhadores reconheceram como principal dificuldade enfrentada nas negociações a valorização dos salários dos trabalhadores, com remuneração média atual de R$ 2.118,46 no setor, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS/MTE) de 2014 (última divulgada). De acordo com a categoria, as empresas têm se utilizado da crise econômica e política do País para não reajustar salários. Segundo a CNTA Afins, a maioria tem se negado a repor até mesmo a inflação dos últimos doze meses das datas bases.
 
“Nós repudiamos esse procedimento e exigimos a aplicação imediata da correção inflacionária em todos os acordos e convenções coletivas de 2016/2017. O argumento de crise utilizado para não aplicar sequer a inflação no salário do trabalhador, para nós, não se justifica. Primeiro porque o trabalhador não pode pagar por uma crise que ele não contribuiu para gerá-la. Segundo, porque reduzir o poder aquisitivo do trabalhador é contribuir para o aumento da crise, e terceiro porque os dados estatísticos não comprovam que o setor esteja em crise.”, afirma Artur Bueno de Camargo, presidente da CNTA Afins.
 
Em documento oficiado recentemente às principais indústrias do setor, a categoria exige a correção imediata da inflação e, posteriormente, a retomada das negociações dos demais itens (cláusulas sociais, benefícios, etc.) em um prazo máximo até o dia 13 de junho.
 
“Quem sabe a partir desse prazo possamos evitar outras iniciativas que a situação nos obrigue a tomar, como manifestações e paralisações. Colocamo-nos sempre à disposição para, juntos, discutirmos e buscarmos um entendimento capaz de proporcionar o crescimento do setor produtivo com sustentabilidade e gerar empregos com qualidade e salários justos aos trabalhadores.”, conclui Bueno.
 
A categoria voltará a se reunir no dia 14 de junho, às 14h, na sede da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo (FETIASP), localizada na Rua Conselheiro Furtado no 987, Aclimação, São Paulo (SP).
 
Setor em Números
 
De acordo com levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) a pedido da CNTA Afins, o Brasil fechou o ano de 2015 contabilizando 284.261 trabalhadores na indústria do Açúcar (CAGED/MTE). Em 2014, o total de trabalhadores do setor era de 303.555. Logo, houve um decréscimo de 19.294 vagas (-6,3%) entre 2014 e 2015. Este é o quarto recuo consecutivo dos números anuais do setor. O nível de emprego atual é o mais baixo observado desde 2006. Entre 2011 e 2015 foram cortadas 57.793 vagas. No entanto, os preços do açúcar e do etanol têm sido elevados, chegando a atingir, por exemplo, R$ 86,60 a saca do açúcar em março desse ano, contra R$ 50,66 no mesmo período do ano anterior.
 
Ainda segundo os dados de 2015, o Estado onde há maior número de trabalhadores é São Paulo, com 114.264 trabalhadores (40,2% do total de trabalhadores no Brasil). Em seguida, dentre os Estados que mais empregam, estão: Alagoas, com 55.084 trabalhadores (19,4% do total); e Pernambuco, com 33.817 trabalhadores (11,9% do total). Juntos, os três Estados concentram mais de 71% dos trabalhadores do setor. Sergipe foi o Estado que registrou o maior avanço no número de vagas criadas em 2015: foram 861. Na outra ponta, Pernambuco foi o Estado que mais demitiu: com 7.064 vagas fechadas.
 
Remuneração
 
Com relação à remuneração, tomando por base as informações de dezembro de 2014, a pesquisa aponta que mais de 34,8% dos trabalhadores do setor recebem até dois salários-mínimos por mês. Já os salários mais altos, acima de cinco salários-mínimos, correspondem a apenas 10,3% dos vínculos.
 
O nível de rotatividade pode ser observado pelo pouco tempo de permanência no emprego. Cerca de 31,7% dos trabalhadores está há menos de um ano em seu emprego atual. Contudo, há 32,9% de trabalhadores com mais de cinco anos de vínculo. Algo raro no contexto das indústrias da Alimentação em geral, segundo o DIEESE.
 
Paulo Alexandre de Moraes, técnico do DIEESE responsável pelo estudo, avalia que embora a inflação acumulada esteja mais alta em relação ao ano passado (quando era de 8,34% em maio) e o cenário político tenha atingido seu ápice de crise nesse primeiro semestre com o impeachment de Dilma, há possibilidades de recuperação econômica.
 
“As negociações salariais devem ser pautadas pela expectativa de futuro e não pela conjuntura passada. E o cenário, ao menos hoje, é de reversão das expectativas para um cenário de lenta recuperação. Em outras palavras: já chegamos ao fundo do poço. Daqui em diante, devemos começar a subir novamente.”, diz.
 
De acordo com Paulo, as negociações salariais no setor (para datas bases em maio) deveriam atingir 9,83% somente para repor a inflação do período (INPC acumulado entre Maio de 2015/Abril 2016), o que não vem acontecendo, impossibilitando o aumento real.
 
“O ganho real nas negociações coletivas tem sido a tônica dos últimos anos. É uma conquista dos trabalhadores. A despeito da crise, que é severa, acho importante que esta pauta permaneça sobre a mesa. Sobretudo, porque trata-se de manter o poder de compra e de consumo do salário dos trabalhadores. O que constitui um elemento chave para uma das saídas possíveis para a própria crise: o aumento do consumo das famílias.”, afirma.
 
 
Outras informações:
 
Consulte aqui o Perfil dos Trabalhadores do Setor de Usinas de Açúcar (DIEESE/CNTA)
 
Consulte aqui a evolução dos preços do açúcar e etanol (DIEESE/CNTA)
 
 
Assessoria de imprensa:
Clarice Gulyas
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