Candidata a deputada federal pelo DF, Mari Valentim (Cidadania) defende que a pauta trans não tem nenhum conflito com uma visão política de centro
Mari Valentim é uma arquiteta, urbanista e empresária que há seis anos colocou a militância política a favor do liberalismo como um dos pontos chave de sua vida. Ela, que é candidata a deputada federal no DF com o número 2324 (Cidadania), é também uma mulher trans que acredita que é a partir das pautas econômicas em que se poderá garantir uma vida mais justa e plena para as populações de minorias políticas.
“Fiz minha transição de gênero aos 40 anos. Fiz esta revolução pessoal e a partir dela entendi melhor meu desejo de que todos possam ter liberdade e condições financeiras para viver sua vida conforme seus desejos, com suas convicções”, aponta ela.
Mari Valentim busca trazer representatividade para a política, mas sem se esquecer da competência para pensar a política a partir de um ponto de vista mais aberto. “Ser trans me traduz, mas não deve me reduzir. Sou um ser bem mais amplo do que minha identidade de gênero”, resume ela. “Tenho propostas muito concretas para as minorias, mas acredito que é preciso pensar para além de pautas soltas, indo para uma visão social e econômica mais abarcadora”, aponta.
É a primeira vez que Mari Valentim se candidata a um cargo eletivo, mas ela não é estrangeira à política. Sua carreira na militância de movimentos sociais e depois na estrutura interna do partido Cidadania lhe deram a experiência política para conseguir realizar seu objetivo: representar a população LGBTQIA+ sem deixar de enxergar a importância de lutar pela realização econômica e individual das pessoas de maneira plena.
Uma vida nova aos 40 anos
Mari Valentim afirma que vivia em uma “jaula de gênero” antes de iniciar seu processo de transição, já aos 40 anos. Apesar de sua carreira sólida e uma série de conquistas pessoais, ela considera que até então nunca tinha tido uma experiência de realização plena.
“Eu não conseguia viver minha plenitude e não tinha coragem de enfrentar os amigos, a família, o trabalho… A partir da transição, fui redescobrindo a vida, me sentindo mais plena, de minha existência ser conforme eu sempre desejei, sempre senti.”
Apesar da sensação de aprisionamento, Mari Valentim considera que a experiência de ter passado por uma transição de gênero em uma etapa mais madura de sua vida também foi uma possibilidade para que ela entendesse a importância da autonomia financeira no processo de exercício da própria liberdade.
Autonomia que começa no bolso
Ao se aproximar da realidade de outras pessoas que haviam transicionado mais cedo e enfrentado preconceitos que os privavam de oportunidades, Mari Valentim entendeu que sua estabilidade econômica tornou o processo de readequação muito mais fácil.
“Claro que nunca é tranquilo passar por uma transição, mas quando você conquista sua liberdade econômica, os desafios são menores: você tem condições de viver sua vida e ter esta autonomia”, diz. Para ela, a ideia de autonomia econômica passou a ser então indissociável da liberdade de gênero e de sexualidade.
“Sem o trabalho, sem o estudo, as pessoas LGBTQIA+ tem muita dificuldade de viver sua liberdade. Uma das minhas pautas é que não existe ativismo sem que a pessoa ter grana para enfrentar a família, ter um estudo para ter uma condição de vida melhor. Não defendo as pautas LGBTQIA+ soltas, como se fossem descoladas da realidade. Precisamos pensar que toda pessoa vai muito além de sua orientação sexual ou de seu gênero”, afirma.
Militância liberal
A partir da experiência da própria transição e em contato com outras mulheres que haviam passado por jornadas semelhantes, Mari Valentim foi se aproximando cada vez mais da política. “Quando eu vivi a experiência de viver minha liberdade, assumir minha identidade de gênero, eu vi que eu tinha ali uma luta política para ser travada”, diz.
A transição iniciada aos 40 anos também deu à luz a uma pessoa muito mais engajada nas pautas de debate político, especialmente buscando evidenciar a importância de aliar a pauta econômica com a defesa da autonomia das pessoas.
“Foi assim que eu comecei a me ocupar da política, primeiro com movimentos suprapartidários, como o movimento Livres. Depois eu entrei no Lola, um movimento de mulheres liberais que está presente em 23 países do mundo. Me formei pela maior escola de formação política do Brasil, o RenovaBr… Fui me envolvendo mais e mais”, resume a candidata.
Relação com o Cidadania
A ponte que ela estabeleceu entre a filosofia política e seu exercício prático, dentro de um partido, foi firmada em 2019, quando Mari Valentim recebeu um convite para se filiar ao Cidadania, um partido que tem o centro do espectro político como base, aliando o respeito à realização econômica e a proteção do indivíduo.
“O Cidadania foi um presente na minha vida. O partido veio com uma proposta de abraçar os sociais-democratas, os liberais, reunir as pessoas que haviam se interessado pelos movimentos suprapartidários e eu aceitei de pronto o convite”, diz.
Mari Valentim participou da estrutura local do partido no DF e também no planejamento nacional do Cidadania, atuando tanto na Secretaria de Mulheres como junto à Direção Nacional desde sua filiação, em 2019. Logo depois, a candidatura dela passou a ser construída como fruto desta participação ativa no partido.
“O Cidadania é um partido que se você ler o estatuto, se você ler o campo programático, ele traduz muito o que eu desejo na militância política. Eu tenho essa posição mais pragmática, mais centrista. Uma visão de mundo moderada. Enfim, é um partido em que eu me sinto muito à vontade para atuar”, sustenta.
Principais propostas
Mari Valentim sonha em poder ser eleita deputada federal para mostrar um equilíbrio que o seu próprio número na urna antevê. O 23 do Cidadania, com o enfoque no centro político, no liberalismo econômico com um cuidado social-democrata, aliado com o 24, número por anos associado à uma marginalização da população LGBTQIA+ que ela pretende ressignificar.
Entre suas principais propostas de atuação como deputada federal, Mari Valentim elenca três eixos principais que podem ser sintetizados como: a pauta econômica, a questão fundiária e o respeito às minorias, listados nesta ordem pela candidata.
No primeiro eixo, econômico, Mari afirma defender: “a desburocratização do estado, para que o estado interfira menos na vida empresarial e afetiva das pessoas. Que possam ser pensados programas de geração de emprego e renda para criar uma economia com condições para o empreendedor crescer e formar um mercado robusto, mas que também se estabeleçam empregos dignos, distantes da precarização laboral que vivemos hoje em dia”.
Já o eixo dois, relacionado à moradia, é especialmente tocante à candidata por sua atuação profissional. “Como urbanista, eu defendo a regularização fundiária. Quero que as pessoas tenham direito às suas escrituras, à sua terra. Metade das construções no Brasil são irregulares, o que atrapalha toda a questão de alcançar a própria liberdade. Sem ter um teto para viver, ninguém pode ser livre para sonhar”, diz.
No terceiro ponto em que pretende atuar como deputada federal, Mari Valentim se coloca como representante das minorias. “Eu olho muito para as questões das pautas LGBTQIA+, das mulheres, dos povos indígenas, das pessoas negras, das pessoas com deficiência… Eu abraço muito as questões das minorias por também fazer parte delas. Pretendo ajudar a deter estes retrocessos que vivemos nos últimos anos neste governo reacionário e conservador e também ampliar direitos e empregabilidade de pessoas que se incluam nestes grupos”, conclui a candidata.
Acompanhe Mari Valentim pelo Instagram: @marivalentimdf